TOPONÍMIA EM LIBRAS DO ESTADO DO MATO GROSSO: ANÁLISE DOS SINAIS DOS MUNICÍPIOS
Libras; toponímia; identidade surda; educação bilíngue; Mato Grosso.
Esta tese, desenvolvida no âmbito da Linguística Aplicada, na linha de pesquisa Estudos de Processos de Práticas Sociais da Linguagem do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), teve como objetivo analisar os sinais que designam os municípios do estado de Mato Grosso na Língua Brasileira de Sinais (Libras), buscando compreender suas estruturas linguísticas, motivações semânticas e funções comunicativas, partindo do pressuposto de que constituem um material relevante para os estudos de toponímia em línguas de sinais. A pesquisa explorou questões centrais como os mecanismos de criação dos sinais toponímicos, o reconhecimento e uso desses sinais pela comunidade surda mato-grossense, bem como os aspectos históricos, geográficos e culturais refletidos em suas formas. Inserida em um campo interdisciplinar que articula linguística, geografia cultural e educação de surdos, a investigação adotou abordagem qualitativa, descritiva e interpretativa, valorizando a análise visual e multimodal dos sinais. O corpus contou com 106 sinais toponímicos, considerando que 10 municípios apresentavam dois sinais, coletados no âmbito das ações do Centro de Atendimento ao Surdo de Mato Grosso (CAS/MT). A metodologia permitiu documentar parâmetros linguísticos da Libras, mecanismos de iconicidade e presença de empréstimos do português escrito, com fundamentação teórica em Dick (1990), Sousa (2019, 2022, 2025), Aguiar (2012) e Sousa e Quadros (2019a, 2019b, 2019c). A análise revelou que 63% dos sinais apresentam algum tipo de empréstimo linguístico — por inicialização, calque ou transsemióticidade — enquanto 37% são nativos ou puros, evidenciando equilíbrio entre criatividade interna da Libras e influência do português. Quanto às motivações semânticas, identificaram-se 65 grafematopônimos (65,61%), 7 zootopônimos (7,6%), 7 sinais com motivação opaca (7,6%), 6 ergotopônimos (6,6%), 4 hidrotopônimos (4,4%), 4 mimetopônimos (4,4%), 3 fitotopônimos (3,3%) e outras categorias, incluindo corotopônimos, sociotopônimos, poliotopônimo, ecotopônimo e motivação transsemiótica, além de casos de motivação dupla. Os resultados demonstram que os sinais toponímicos em Libras constituem uma forma complexa e dinâmica de nomeação, articulando parâmetros linguísticos próprios da Libras com motivações semântico-visuais derivadas de aspectos culturais, históricos e geográficos locais, nos quais a iconicidade desempenha papel central. A pesquisa evidencia que a toponímia sinalizada funciona como registro visual da história, geografia e cultura local, contribuindo para o fortalecimento da identidade surda, a valorização da Libras como língua plena, autônoma e historicamente situada e para a preservação das marcas culturais e identitárias do povo surdo, oferecendo ainda subsídios para a documentação sistemática da Libras e para práticas de inclusão linguística e social.