PRIVATIZAÇÃO, PLATAFORMAS DIGITAIS E A CONDIÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO DE MATO GROSSO, NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES
Plataformas digitais. Privatização da educação. Trabalho docente. Políticas educacionais.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a percepção de professores da rede pública estadual de ensino de Mato Grosso sobre o impacto das plataformas digitais e dos cursos online obrigatórios na condição do trabalho docente, a partir de 2014, se desdobra em três objetivos específicos: 1. Analisar a introdução de plataformas digitais na rede pública de educação de Mato Grosso, 2. Levantar o perfil dos profissionais participantes da pesquisa, 3. Identificar e analisar as consequências das plataformas para a formação continuada e a condição do trabalho docente. Para a realização da pesquisa foram suscitadas duas questões: Quais indicadores compõem o trabalho docente e em que medida eles são afetados pelo uso da Plataforma Plurall? Quais as consequências da privatização por meio da plataforma digital Plurall e dos cursos online impostos pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso à organização do trabalho docente? Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, de caráter documental, bibliográfico e empírico, que investiga o processo de privatização da educação e a intensificação do uso de plataformas digitais, especialmente a Plurall e o AVADEP, no contexto das políticas neoliberais implementadas no estado, desde 2014. O método envolveu levantamento e análise de produções acadêmicas, legislações, contratos públicos e, principalmente, a aplicação de um questionário online aos professores da rede estadual, cujo retorno de 300 respostas foram organizadas e tratadas por meio de análise de conteúdo. Os resultados indicam que a adoção das plataformas digitais, embora apresentada como inovação, trouxe consequências ambíguas: parte dos docentes reconhece avanços em termos de acesso a recursos digitais e facilitação de processos avaliativos, mas a maioria aponta para a intensificação da carga de trabalho, fragmentação das tarefas, sobrecarga administrativa, perda de autonomia pedagógica e aumento do controle e responsabilização individual por resultados. A obrigatoriedade do uso das plataformas e a política de gratificação por desempenho reforçaram a lógica meritocrática e de accountability, transferindo ao professor a responsabilidade pelo desempenho dos estudantes nos testes e aumento dos indicadores educacionais, muitas vezes desconsiderando as condições reais de trabalho e as desigualdades estruturais que determinam os fatores intra e extra escolares. Sintomas de exaustão, estresse, insônia e adoecimento tornaram-se recorrentes, agravados pela pressão por resultados e pela falta de reconhecimento institucional. A formação continuada mediada por plataformas digitais foi percebida como fragmentada, superficial e pouco relevante para o desenvolvimento profissional, sendo vista mais como exigência tecnoburocráticas do que como espaço de aprimoramento coletivo. Apesar dos desafios, muitos professores buscam estratégias de resistência, adaptando práticas, recorrendo a recursos externos e reivindicando maior participação nas decisões pedagógicas e tecnológicas. Conclui-se que a plataformização da educação, no contexto da privatização e das reformas neoliberais, intensificou a precarização do trabalho docente, exigindo políticas públicas que valorizem a autonomia, a saúde e a participação dos professores nas decisões de políticas educacionais e na organização do trabalho coletivo da escola, promovendo uma educação digital crítica, democrática e emancipadora.