DINÂMICAS DA PAISAGEM DO CÓRREGO SANGRADOURO, CÁCERES/MT: PROPOSTA DE PARQUE LINEAR COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO URBANO
Paisagem urbana; córrego Sangradouro; parque linear.
Este estudo tem como objetivo compreender as dinâmicas e complexidades envolvidas na gestão das paisagens do córrego Sangradouro, localizado no município de Cáceres, Mato Grosso. Além disso, busca analisar as paisagens que compõem seu entorno, explorar os processos históricos e as legislações associadas às transformações dessas paisagens, e propor a implementação de um Parque Linear ao longo do córrego, com potencial para uso social e turístico. A metodologia adotada baseia-se na análise perceptiva da paisagem, utilizando os conceitos de marca e matrizes. A pesquisa emprega métodos qualitativos, incluindo revisão bibliográfica, pesquisa documental, trabalho de campo e a elaboração de um estudo urbanístico preliminar, com o uso de ferramentas como SketchUp para a modelagem das propostas. Os resultados obtidos evidenciaram a complexidade e a dinâmica da paisagem do córrego Sangradouro e suas múltiplas transformações ao longo do tempo, revelando a interação entre fatores naturais, urbanos e sociais. A caracterização da paisagem demonstrou que a presença do córrego foi decisiva na estruturação do espaço urbano, atuando como elemento orientador da ocupação e compondo diferentes camadas ambientais, culturais e estruturais do território. A análise dos aspectos históricos da evolução urbana revelou a importância estratégica do córrego na formação e expansão de Cáceres, associada ao processo de urbanização e às mudanças sociais e econômicas que moldaram a cidade. Nesse contexto, a Ponte Branca destacou-se como um importante marco histórico e identitário, cuja demolição em 1998 simbolizou a ruptura da relação da população com o curso d’água e a sobreposição de um modelo de cidade tecnicista à preservação do patrimônio cultural. A canalização do córrego Sangradouro, realizada principalmente entre as décadas de 1970 e 1978, representou uma mudança significativa na paisagem urbana e na dinâmica ecológica local. A substituição do leito natural por galerias subterrâneas e a intensificação da impermeabilização alteraram a morfologia fluvial e reduziram a presença do córrego na experiência cotidiana da população, convertendo-o em mera infraestrutura de drenagem. A análise da configuração espacial, baseada nos conceitos de marcas e matrizes, permitiu identificar elementos históricos persistentes, como o traçado original do córrego e vestígios simbólicos como a Ponte Branca, além de evidenciar a predominância de matrizes urbanas impermeáveis, uso residencial intensivo e fragmentação dos espaços verdes, fatores que comprometeram a conectividade ecológica e a funcionalidade ambiental do espaço. Por fim, o estudo apresentou a proposta Caminhos do Sangradouro, um projeto preliminar de parque linear que buscou reconectar a cidade ao seu curso d’água por meio da requalificação ambiental e urbana. A proposta previu a integração do espaço natural ao tecido urbano, a recuperação da conectividade ecológica e a valorização dos elementos históricos e afetivos, ressignificando a relação entre sociedade e natureza e contribuindo para um modelo de gestão mais sustentável dos cursos d’água urbanos.