AS RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E POLÍTICA EM A NOITE DA ESPERA E PONTOS DE FUGA, DE MILTON HATOUM
Ditadura Militar. Política. Milton Hatoum. A noite da espera. Pontos de fuga
O objetivo precípuo deste trabalho consiste em refletir acerca da repressão, tortura e violência instauradas pela ditadura militar representadas por Milton Hatoum nos romances A noite da espera (2017) e Pontos de fuga (2019), primeiro e segundo livros que compõem a trilogia O lugar mais sombrio (2019), pelo viés das relações entre Literatura e Política, tangenciando as acepções de memória e identidade, apresentadas por estudiosos como: Benjamin Abdala Júnior (2007); Alfredo Bosi (2013); Antonio Candido (1976), Jacques Le Goff (2003); Stuart Hall (2006); Paul Ricoeur (2007) e Edward Said (2003). As narrativas selecionadas acolhem a temática histórico-social em sua configuração textual para transformá-la em ficção, porém não basta conceber o romance apenas como denúncia, é preciso perceber como esta visão crítica se constrói sem prejuízos à estética. Hatoum ultrapassa as particularidades do romance-denúncia da Ditadura Militar, atentando para a reflexão sobre as cicatrizes que ficaram daquele período sombrio, que reabrem a cada lembrança e/ou menção do retorno de fatos que não se consegue sepultar, memórias que devem ser (re)ativadas afim de não (re)vivenciarmos os horrores dos anos de chumbo da Ditadura Militar. Ao discutir a ficcionalização e o tratamento estético dado ao material histórico-social, deve-se enfatizar a importância da memória no processo de (de)formação da identidade da juventude brasileira das décadas de 1960 e 1970, reconstituído na narrativa em discussão. Quanto à formação da identidade, os romances selecionados como corpus da pesquisa manifestam os traços do momento histórico e da realidade política e social neles abordados.