Tradução e adaptação em HQ do cânone Hamlet, príncipe da Dinamarca de William Shakespeare: uma análise necessária
HQs, William Shakespeare, tradução e adaptação, leitura literária, a função da escola
O presente trabalho tem como objeto de análise a obra Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare, que foi traduzida e adaptada em quadrinhos por Wellington Srbeck e ilustrada por Alex Shibao. Como essa adaptação é destinada ao público infantojuvenil, suscitou o seguinte questionamento: o produto dessa transposição do gênero peça de teatro para o gênero história em quadrinhos conseguiu preservar e transmitir as peculiaridades inerentes aos textos do bardo inglês? Outro questionamento levantado foi relacionado à competência leitora do público alvo. Dessa forma, no primeiro capítulo discorreu-se sobre o trabalho com a literatura em sala de aula, uma vez que a escola ficou incumbia da tarefa de, entre outras coisas, ser a mediadora entre os discentes e obras literárias. Portanto, ao longo do primeiro capítulo foi analisada a função da escola e como os professores utilizam textos canônicos na construção da habilidade leitora necessária na formação de leitores competentes e perenes. Como o texto foi traduzido da Língua Inglesa para a Língua Portuguesa, considerou-se importante debruçar-se sobre o tema dos desafios da tradução literária, uma vez que ao transpor de uma língua para outra corre-se o risco de haver prejuízo do texto de origem. O tradutor tem nas mãos a responsabilidade de entregar um produto de qualidade, porém o texto resultante pode afastar-se muito do texto de arranque, chegando muitas vezes a ser uma outra obra. Nesse segundo capítulo explanou-se ainda os conceitos de tradução literal e tradução livre, transcriação e adaptação. No terceiro capítulo o foco foi nas histórias em quadrinhos, ou HQs, analisando conceitos referentes à concepção das HQs como arte ou literatura, adaptações de clássicos em quadrinhos, findando dialogando com teóricos sobre a análise de HQ, detendo-se na teoria de Groensteen, haja vista que durante a análise pretendida foi utilizada muito de seus conceitos. No último capítulo realizou-se efetivamente a análise da HQ produzida por Srbeck, cotejando com a tradução de Millôr Fernandes e em alguns momentos também com o texto em inglês. Foi possível perceber que o adaptador preocupou-se em manter sua tradução o mais próximo possível do texto de arranque, bem como a maioria das cenas, fazendo poucas modificações. Contudo, verficou-se que algumas frases e monólogos não foram contemplados na versão em quadrinhos, seja pelas limitações que o gênero oferece ou por escolhas de Srbeck que pode ter considerado que o leitor infantojuvenil não teria maturidade suficiente para entender as falas mais profundas ou filosóficas. O término da análise trouxe a percepção de uma tradução e adaptação facilitada para o público alvo, garantindo uma leitura fluida, porém não contemplando toda a riqueza presente no texto original. Pode ser que, futuramente o leitor mirim tenha a oportunidade de ler o texto integral e, então, possa conhecer mais das habilidades de Shakespeare de falar sobre a essência do ser humano.